terça-feira, 22 de julho de 2014

Coesão e Coerência

    A coesão do texto [...] tem uma dupla função: a de promover e a de sinalizar as articulações de segmentos, de modo a possibilitar a sua continuidade e a sua unidade. Dessa forma, a coesão não apenas estabelece os nexos que ligam as subpartes do texto como também sinaliza, marca onde estão esses nexos e quais os pontos que eles articulam.
    Evidentemente, as marcas dos nexos coesivos na superfície do texto não garantem por si mesmas a necessária continuidade do texto bem construído. Ou seja, a superfície do texto não é tudo.
    No entanto, não podemos deixar de ressaltar que essa mesma superfície tem uma clara função mediadora, que sobressai, assim, como pista, que orienta, que indica a trilha do sentido e das intenções pretendidos. A coesão, portanto, ultrapassa a mera ocorrência dos elementos linguísticos na superfície do texto e está em íntima correlação com a coerência do texto.
    Um texto é um evento sociocomunicativo. Nunca acontece fora de uma situação cultural. Nunca acontece sem uma função determinada. Nem que seja apenas a de quebrar o silêncio. Por isso mesmo, ele depende de componentes linguísticos - explícitos e implícitos - e de fatores não linguísticos, que são exatamente aqueles fatores próprios da situação cultural [...]. Isto é, a atividade discursiva, do jeito que ela normalmente acontece, inclui, necessariamente, elementos de uma e de outra natureza. Por isso é que falar em texto contextualizado é até uma redundância.

(Lutar com Palavras - Coesão e Coerência, de Irandé Antunes)